20 setembro 2016

Artigo: Robert Pattinson já mostra seu pontecial em Little Ashes

Antes de ser Edward Cullen em "Crepúsculo", Robert Pattinson foi Salvador Dalí em "Poucas Cinzas" (Little Ashes). Embora a mudança radical do ator seja o principal atrativo do filme para muitos, esta aposta arriscada é uma agradável surpresa por outras várias razões.

Madrid, 1922. A cidade se encontra à beira da mudança, seus valores tradicionais são questionados pelos vanguardas e pela influência de Freud. Salvador Dalí (Robert Pattinson) tem dezoito anos e chega a residência de estudantes decidido a se converter em um "representante do movimento".

A extravagante mistura de timidez e exibicionismo desenfreado do artista chamará a atenção de seus colegas da elite social, Federico García Lorca (Javier Beltrán) e Luis Buñuel (Matthew McNulty). Os três jovens marcam um hito na capital, mas suas preocupações artísticas e sentimentais faram seus caminhos se separarem.

Em 1936 a Espanha oferece um show mais surreal do que nenhum destes três artistas poderiam ter imaginado.

O diretor inglês, Paul Morrison, traz para o cinema um resumo da, muito questionada, história íntima entre Salvador Dalí e Federico García Lorca. Muito tem sido especulado e escrito do assunto, apesar do que parece óbvio, que este filme aborda sem censura. Apesar dessa relação ser amplamente discutida no filme, a Fundação Gala-Salvador Dalí não se opôs ao seu desenvolvimento, ao contrário de trabalhos anteriores. Feito com um orçamento modesto (cerca de 2 milhões de euros), o filme mostra o vínculo afetivo entre o poeta e o pintor com extrema sensibilidade.

Situado em Madrid nos anos 20 e 30, o diretor nos envolve na atmosfera do tempo, nos fazendo descobrir os contextos políticos e sociais sem escrúpulos. Quando mostrados alguns problemas típicos e características espanholas, como a copla ou touradas, o diretor não os ataca, a mudança é um grande alívio para aqueles que estão entediados dos tópicos simples e fáceis que constantemente recorrem.

Os cenários, atentos aos detalhes dentro do que o orçamento permitia, são os quadros onde a história vai se desenhando. Locais que levam o público a descobrir as inspirações dos artistas e que até mostram os fundos de algumas das obras de Dali, como a famosa sala de sua pintura "Menina na janela" (1925), onde pintou sua irmã Ana María.

O filme, filmado com uma curiosa mistura de Inglês e Espanhol, não só permanece na pintura, como também investiga a poesia de Lorca (recitado em castelhano e traduzido com uma narração) e a intolerância da época, personalizada em Buñuel, passando para o mundo do cinema, misturando imagens de arquivo e protestos sociais.

O filme explora a paranoia do contraditório Dalí e seu mundo de sonho louco, em contraste com o de Lorca, atormentado por sua indecisão sexual, cujos pés permanecem no chão devido à influência de Margarita Manso (Marina Gatell).

A sensibilidade, o romance e a elegância do filme são óbvias. Longe de tratar de forma grosseira o tabu da época, a homossexualidade. É oferecida a oportunidade de compreender a relação entre Dali e Lorca, do ponto de vista mais íntimo, fugindo da simples curiosidade e do sensacionalismo barato. O diretor fornece cenas de sexo sem inibições, sem cair no vulgar, com a máxima delicadeza.

A linguagem não verbal do filme é essencial para entender o peculiar laço sentimental que une ambos artistas. Javier Beltrán deixa claro seu amor por Dalí em cada olhar, cada gesto. Até sua dor e confusão são revelados quando a história requer. Mas Robert Pattinson é o brilhante pilar que te prende ao filme. Uma verdadeira mudança em relação aos seus trabalhos anteriores, é uma amostra do incrível potencial do ator. Sua caracterização de Dalí não é só na aparência: cada gesto é medido e calculado para construir a figura do pintor que todos sabemos. Para Pattinson "Dalí foi muito mais do que aquele palhaço bizarro do fim de sua vida, apenas preocupado com o dinheiro" e, preocupado por não distorcer sua memória, tem representado um papel que fala por si só, sem necessidade de palavras.

A trágica história de amor entre esses dois artistas requeria um tratamento sensível, elegante e romântico, sem cair no vulgar e isso foi conseguido, sem dúvida.

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