03 setembro 2012

FanFic: Forget Me Not - Capitulo 6 parte 1


Forget Me Not

Autora(o): Juliana Dantas
Contatos: @JuRobsten;
Gênero: Romance, drama, Mistério, universo alternativo
Censura: +18
Categorias: Saga Crepúsculo
Avisos: Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

**Atenção: Esta história foi classificada como imprópria para menores de 18 anos.**


***Pov Bella***


**Flashback** 

Eu me sentia meio tonta.Não sei se por causa da quantidade inédita de álcool que ingerira ou se por tudo o que estava passando naquela noite. Mas eu sentia minha mente rodando enquanto saía do banheiro e percorria novamente os corredores do clube. Havia um medo genuíno de encontrá-lo de novo. O cara com quem eu tinha transado.E gostado.“Ainda não acabou”, ele dissera. Mas pra mim tinha acabado. Mesmo ainda sentindo pequenas vibrações dentro de mim, no lugar onde ele estivera. Mesmo secretamente desejando que fosse possível... 

Mas não era. Eu não era uma daquelas pessoas. Por alguns instantes perdidos no tempo eu acreditara ser.Mas eu era uma farsa. E tinha que tirar aquele estranho da minha cabeça e me concentrar no meu objetivo. Com isto em mente, eu entrei numa sala. Havia um casal se beijando num sofá. Além deles, a sala estava vazia. Eu entrei, meus pés dançaram um pouco e eu rezei para não cair.Agora não haveria estranhos de olhos verdes para me segurar.

Eu fingi estar interessada na cena à minha frente. Enquanto caminhava, meus dedos sobre a câmera entre meus seios. Me virei para a estante, vários objetos de arte dispostos sem ordem aparente.Prendendo a respiração, eu retirei a câmera e a coloquei ali.


–Hey, você.

Assustada, retirei a mão rápido e esbarrei numa escultura, que foi ao chão no processo.
O barulho de vidro se estilhaçando fez o casal no sofá parar o que estavam fazendo e olhar para mim.
Eu podia sentir meu rosto corando de vergonha e medo, quando olhei em direção à voz que tinha me chamado.
Havia um homem muito alto e forte ali.
–Me desculpe, eu... – balbuciei.
Mas o homem caminhou até mim e o medo me paralisou.
–Estava mexendo aí? – sua voz era tão ameaçadora quanto seu físico. Deus, ele deveria ser algum tipo de segurança!E agora me encarava desconfiado.
–Não, eu... quer dizer... somente esbarrei e... eu sinto muito.
Ele ainda me encarou por uns instantes, depois os olhos percorreram a estante e eu parei de respirar, o medo me deixando trêmula.
Se ele descobrisse a câmera...Então me fitou novamente.
–Preciso que venha comigo.Oh meu deus. Eu estava a ponto de desmaiar.Será que ele sabia?
–Mas por quê? Eu não fiz de propósito...
–Apenas me acompanhe. – seus dedos se fecharam como garras de aço no meu braço, enquanto me tirava da sala.

Eu podia gritar. Eu podia pedir ajuda.Mas quem se importaria naquele lugar? Há apenas uma hora atrás um outro estranho fizera a mesma coisa e eu deixara.
E agora, o que iria acontecer? Possibilidades terríveis passavam por minha mente.Onde diabos eu tinha me metido?
De repente nós paramos na porta de uma sala.O brutamonte se aproximou mais. 
–Alguém pediu que a trouxéssemos aqui.
–O quê?
–Você impressionou um dos clientes. Então quando entrar nesta sala, faça tudo o que ele pedir. São ordens, entendeu?
–Mas eu... – minha mente ainda dava voltas tentando entender.
–E fique esperta. Sei que estava mexendo naquela estante. Não gostamos de enxeridos por aqui. Em outra circunstância, estaria bem encrencada. Mas agora tem um serviço a fazer. E é bom que deixe o cliente satisfeito.

Oh meu deus, o que estava acontecendo? Ele estava querendo dizer que eu tinha que entrar naquela sala e “satisfazer” um cliente?
Eu não poderia fazer. De maneira alguma! Mas ele já me puxava para dentro e eu tentava desesperadamente pensar numa saída.
Mas como eu poderia sair daquela situação sem denunciar quem eu era? Então nós entramos na sala e eu o vi.
Não sei dizer o que senti, ao ver o mesmo estranho de cabelos cor de areia. Era ele o cliente que pedira para me buscar?
“-Ainda não acabou... não conseguirá se esconder de mim...” 
Eu o fitava, agora sentado no sofá com uma loira que sussurrava algo em seu ouvido e acariciava seu peito.
–Lembre-se do que te falei. – o segurança sussurrou no meu ouvido antes de soltar meu braço.

Eu tive vontade de dar meia volta e correr. Mas era impossível. Eu apenas fiquei ali, olhando a loira sorrir e se inclinar ainda mais, falando algo em seu ouvido, até que ele levantou o olhar e me encarou.
Meu coração disparou no peito. Havia tantos sentimentos debatendo dentro de mim, que eu poderia explodir.
O medo do segurança ainda do meu lado, esperando minha reação.Pronto para me denunciar.E eu só precisava fazer o que ele pedira.
E isto envolvia estar de novo com aquele cara na minha frente. Eu só tinha que dar um passo e ir ao seu encontro.
De novo.


De repente mais um sentimento se apossou de mim. Alívio. Havia uma serena aceitação me dominando.Eu já tinha feito aquilo antes. Eu já estivera com aquele cara.
E eu ainda sentia a mesma química poderosa de antes.Me puxando em sua direção.Seus olhos dourados sob a máscara queimando em mim.
Meu corpo começou a tomar vida própria, se lembrando.Ansiando.
Sim, eu não tinha como fugir.Nem daquele clube. Nem daquele estranho.Respirando fundo, eu rompi a distância.

E enquanto eu me aproximava, tudo ia desaparecendo.Ficando apenas ele.
E eu escorreguei para seu colo, fazendo aquilo que secretamente tinha vontade desde que ele pousara aqueles olhos incríveis em mim.
Eu o beijei. E me perdi. De novo.E aquele beijo roubou todos meus sentidos, toda minha sanidade.
Gemendo, eu mergulhei nele, derreti nele.Suas mãos tomaram posse de minha pele de novo. Em meus braços, em minhas costas, em minhas coxas nuas.
E eu era apenas uma massa de pura sensação, todo meu corpo oscilava e vibrava de um desejo primitivo, líquido, quente. E eu me esfreguei nele. Me ofereci para ele.
E foi a vez dele gemer, suas mãos se insinuando para baixo do meu vestido, me tocando entre as pernas e eu arquejei, mordendo seus lábios, empurrando meus quadris contra seus dedos que me estimulavam, me exploravam.
E facilmente eu perdi todo o senso de mim mesma, enquanto o beijava de volta, com força, com vontade, meus próprios dedos descendo por seu peito, até sua calça.
Eu queria tocá-lo também, precisava desesperadamente...

Então sua ereção estava em minhas mãos e ele gemeu roucamente contra meus lábios. Nossos olhares se encontraram. Nossas respirações se misturaram.
E no minuto seguinte, ele estava dentro de mim. De novo.E era ainda mais maravilhoso agora.
Deixei meu olhar preso no dele, enquanto meus quadris subiam e desciam, construindo um ritmo preciso, cada vez mais rápido, o prazer crescendo e se enroscando dentro de mim num redemoinho de sensações até explodir em espasmos deliciosos. Gemendo, eu fechei os olhos, sentindo todo meu ser se despedaçar... Uma, duas, várias vezes. O mundo fora de órbita por alguns preciosos instantes.
E então o fim. Por um momento apenas nos encaramos, ofegantes e então eu ouvi uma risada.E meu olhar vagou pela sala.
Oh meu deus.O que eu tinha feito?
Eu me afastei ajeitando meu vestido no processo.Eu só queria sair dali e me esconder. Meu rosto queimava de vergonha.Ele também parecia um pouco chocado. Ou talvez esta não fosse a definição correta.

–Uau. – a moça loira continuava bebendo champanhe e nos fitava com um sorriso satisfeito. 
– Então é por isto que queria achá-la...
Meu estômago começou a revirar.Eu tinha que sair dali. Agora.
–Não se afaste. – o homem estendeu o braço, sabendo que eu ia sumir mais uma vez.Meus olhos procuraram uma rota de fuga.
–Sim, estava tão divertido. – a moça loira continuou. - Acho que me sinto tentada a me divertir com vocês também...
Oh meu deus.
–Heidi, pode nos dar licença? – ele pediu e me surpreendeu que ele soubesse o nome da loira.Mas eu não estava preocupada com isto agora.
A tal Heidi se levantou.
–É uma pena... – e se afastou.Ele se levantou.

–Eu disse que ia encontrá-la.
Eu dei um passo atrás, mas de alguma maneira eu sabia que ainda estava sendo observada. Diferentes tipos de medo percorriam minhas veias.
Medo de ser descoberta. Medo daquele homem na minha frente.E o pior medo: o medo de mim mesma.Eu tinha que pensar racionalmente.
Forcei um sorriso enquanto ajeitava o cabelo.
–Espero que esteja satisfeito agora... – murmurei. – Mas ainda prefiro me divertir em outro lugar.
–Não vai a lugar algum.
–Por que não? Conhece as regras. Ninguém é de ninguém. Não foi o único com quem eu transei esta noite, sabe disto. – menti.
Ele pareceu desconcertado enquanto passava os dedos nos cabelos.
–Mas quem sabe você tem sorte e a gente se esbarre mais uma vez esta noite?

E me afastei sem olhar para trás.Meu corpo inteiro tremia, quando finalmente consegui entrar no banheiro.E mais alguns passos eu estava sobre o vaso vomitando toda a champanhe cara que ingerira naquele lugar.
–Nossa, você esta mal mesmo, hein.
Eu levantei o olhar e me deparei de novo com aquela garçonete.
–Sim, acho que bebi demais... – murmurei.
–Não parece nada bem.
Eu me levantei quase me arrastando e tirei a máscara.
–Sim... – eu joguei água no meu rosto.Meu reflexo no espelho era de uma palidez sombria.
–Deveria ir embora.Eu a encarei.
–Acha que me deixariam? Eu não quero confusão...
–Não pode voltar à festa assim. Vai acabar vomitando em cima de alguém. Espere aqui.
Ela se afastou e voltou minutos depois com a mesma mulher que havia me recebido na porta.
–Qual o problema?
–Ela está passando mal, Renata. 

A tal Renata me encarou exasperada.
–Isto é um inconveniente.
–Eu sei, me desculpe. – murmurei.
–Acho melhor ela ir embora. É capaz de vomitar em cima de algum convidado... – a garçonete disse.
A mulher ficou pensativa.
–Qual o seu nome?
–Victoria. – murmurei, rezando para não estar me metendo numa encrenca maior ainda.
–Certo, Victoria. Eu vou ter que fazer uma reclamação formal na sua agência. Não quero moças do seu tipo aqui. Vem comigo. Você vai embora agora.
Eu quase respirei aliviada, enquanto colocava a máscara e a seguia.

Nós seguimos pelo corredor e eu apenas rezava para ele não me encontrar de novo.Ou aquele segurança esquisito.Eu precisava conseguir sair dali.
Continuei seguindo a moça, agora estávamos de novo no mesmo hall onde entrara.Havia um segurança ali e ela pediu minha bolsa.
Ele a pegou num armário e segurou meu braço me acompanhando até um carro na entrada.Nada mais foi dito enquanto o carro me tirava dali.
Eu estava livre.

Os dias seguintes passaram como uma névoa para mim.Sim, eu me livrara daquele lugar.Mas não das lembranças.Na noite em que chegara, James e Victoria me cercaram, curiosos e afoitos.
Victoria me encarava.
–E ai, como foi?
–Conseguiu pôr a câmera? – James indagou.
Eu retirei os sapatos muito altos, suspirando.
–Sim, consegui colocar a porcaria da câmera!
James soltou uma exclamação exultante e correu para seu laptop.
–Peguei os desgraçados!
Victoria me seguiu enquanto eu ia para o quarto.
–Mas me conta, como é lá? Reconheceu alguém? Algum figurão?
–Victoria, eu estou muito cansada, realmente. Podemos deixar esta conversa para amanhã?
–Ah não, você precisa me contar...
Eu retirei o vestido e joguei para ela.
–Amanhã. Agora eu vou tomar um banho e dormir.

E a deixei falando sozinha enquanto entrava no banheiro.Deixei a água escorrer sobre meu corpo, querendo que ela levasse consigo todo meu mal estar.
E também as lembranças da minha mente.Mas eu sabia que estas não iriam embora tão fácil.A lembrança de como eu tinha descido tão baixo. Feito sexo com um cara estranho.
Não uma, mas duas vezes.E gostara. Muito.
Fechei os olhos com força, às lágrimas escorrendo mesmo assim, os soluços sacudindo meu corpo.Ainda podia sentir sobre mim os olhares lascivos.
Mas eu não fora melhor que ninguém ali naquela noite.Eu fora um deles. E agora como é que eu ia esquecer?

Parecia que eu estava dormindo por dias, e talvez fosse isto mesmo.Victoria se cansara de entrar no quarto e me chamar e agora eu vagava entre o sono e a vigília. Meus sonhos infestados de homens e mulheres de máscaras.
E eu queria apenas fugir deles. Mas de um eu não conseguia fugir.Porque eu sabia bem lá no fundo que eu não queria fugir.
–Bella, levanta. – a voz de Victoria me tirou do sono e eu a vi parada ao lado da cama, toda arrumada.
–Não vai à aula? Está deitada aí o fim de semana inteiro. Está doente? James mandou perguntar se você tomou alguma droga naquele lugar...
Eu suspirei, me sentando.
–Hoje não vou à aula ... mas eu já vou levantar...
–Você está esquisita.
–Não é nada. Melhor você ir, vai perder a hora.
–Tudo bem. Mas quando voltarmos, vai ter que nos contar tudo. James passou o fim de semana obcecado com aquela câmera...

Quando ela se foi eu me levantei e fiz uma xícara de café. Caía uma chuva fina lá fora e eu fiquei em frente à janela.
Não podia ficar ali o resto da vida trancada em casa. Com vergonha de mim mesma. Mordi os lábios com força. Também não adiantava nada ficar me martirizando agora.
Eu tinha que esquecer. Apenas jogar para o fundo da memória aquela experiência.
Com certeza eu não era nem a primeira e nem a última garota a fazer algo impensado e se arrepender depois.
Victoria mesmo já tinha me contado de pelo menos duas experiências que tivera ao beber demais e transar com caras que nem se lembrava o nome direito.
Sim, eu era apenas mais uma nas estatísticas. Tirando a parte do clube secreto e das máscaras, claro.
Era só esquecer e seguir em frente.Ninguém precisava saber. Ninguém nunca ia saber.

–Como assim não vai escrever? – Victoria me encarava horrorizada aquela tarde. – Você foi para àquela maldita festa para isto!
–Eu não quero!
–Por que não? – James indagou. - Eu vi os vídeos, Bella. Aquilo é quente... se ao menos pudesse voltar lá e descobrir o nome daquelas pessoas...
–Não! Eu nunca vou voltar naquele lugar!
–Meu deus, o que aconteceu com você lá? –Victoria indagou desconfiada e eu desviei o olhar.
–Não aconteceu nada. É exatamente como vocês viram nos vídeos, um monte de homem rico e pervertido trepando com garotas de máscaras! Não sei nem se daria uma matéria que prestasse!
–Vai perder a chance de escrever uma matéria que poderia abrir muitas portas, Bella!
–Problema meu! Se está tão interessada, escreva você!
–Eu não estive lá!
–Bom, eu já decidi e não vou mudar de ideia. E por favor, não quero mais saber desta história!
–Mas Bella...
–Deixa ela, baby. – eu ainda ouvi James falando enquanto eu me afastava para o quarto. – Eu acho que podemos fazer muito melhor com este material...
Eu fechei a porta do quarto.

Não queria mais de nenhuma ideia de James e Victoria.Queria apenas esquecer. De maneira alguma eu me prestaria a escrever sobre aquela noite.
Não me importava o que estava perdendo.Eu só queria que aquela noite nunca tivesse existido. Os dias passaram, se transformaram em semanas.
Eu voltei para a aula. Me afastei de Victoria e James, me concentrando nos estudos, e quase não os via.Retomando minha vida como se nada tivesse acontecido.
Ignorando a sensação que eu tinha às vezes de vê-lo em qualquer estranho com cabelo castanho claro, ou olhos verdes dourados...
Era quase uma obsessão. Mas eu tinha certeza que mesmo aquilo iria passar.Eu ia esquecer. Tinha que esquecer.

Mas um dia eu acordei com um enjôo terrível e mal conseguira chegar até o vaso antes de vomitar.Era apenas um mal estar, dizia a mim mesma.Mas comecei a sentir tonturas e aquele enjôo continuou por dias seguidos.
E então eu não poderia mais enganar a mim mesma quando minha menstruação atrasou.Mesmo assim, eu ainda tinha esperança que não fosse nada.Não poderia ser.
Eu estaria perdida se fosse.Numa manhã eu faltei à faculdade e fui ao médico.E minhas esperanças foram para o ralo quando ele me confirmara meu maior medo.

Eu estava grávida. 
Senti o ar me faltar. Não era possível. Era um pesadelo.

–Pela sua reação acho que não é algo esperado. – o médico dizia e eu lutei para não desmaiar.
–Sim... eu não fazia ideia...
–Isto acontece mais do que imagina. A nossa clínica é bastante discreta se precisar de uma interrupção.Eu o encarei, tentando entender.
–A senhorita é jovem. Se a gravidez é um inconveniente pode fazer um aborto.Minha mente começou a rodar.
–Vá para casa e pense. Não é uma decisão para se agir irracionalmente. E nos procure se precisar.
Eu saí da sala do médico totalmente perdida. Meu estômago dava nós e eu caminhei tropegamente procurando o banheiro. No caminho passava por várias mulheres na sala de espera. Com gestação em diferentes níveis.
Eu senti que podia vomitar. A realidade se abatendo com força.Eu também estava grávida como aquelas mulheres.Minha barriga também ia crescer. Eu ia ter um bebê.
Como é que uma coisa daquelas podia estar acontecendo comigo? Estava grávida. E nem fazia ideia de quem! E como é que eu podia ter um filho naquelas circunstâncias?

Eu era apenas uma estudante que vivia de mesada e procurava um estágio. Como é que eu poderia contar algo assim para meus pais?
Que eu engravidara em uma festa secreta e não fazia ideia nem do nome do pai do meu filho? “Se a gravidez é um inconveniente pode fazer um aborto”
As palavras do médico voltaram à minha mente enquanto eu finalmente achava a porta do banheiro e entrava. Me segurei na pia, deixando as lágrimas caírem.
Chamar aquela gravidez de inconveniente era o mínimo que eu podia fazer. Aquilo era uma catástrofe. E eu que achava que podia fingir que aquela noite nunca tinha acontecido...
Eu queria morrer.

De repente eu ouvi um barulho e levantei o olhar.Através das minhas lágrimas eu percebi que não estava sozinha.Havia uma moça loira ali e ela também chorava.
Nós nos encaramos por um momento e eu enxuguei meu rosto, me sentindo envergonhada e ela fez o mesmo, desviando o olhar.Respirei fundo me perguntando se o problema dela era o mesmo que o meu.
Peguei um lenço de papel enxugando o nariz e tentando me acalmar.Mas tudo em mim ainda doía.
Eu fitei a moça e ela ainda chorava, mas quando percebeu que eu a encarava, sorriu através das lágrimas. Eu sorri para ela também, havia uma estranha solidariedade ali.
–Me pergunto se está triste pelos mesmos motivos que eu. – ela sussurrou. Eu não falei nada, abaixando o olhar.
–Eu achei que estivesse grávida. – ela continuou. – Mas era um alarme falso. De novo. – eu a encarei e havia uma lágrima escorrendo em seu rosto, que ela enxugou rapidamente. – Eu deveria desistir... – respirou fundo me encarando. – Também está triste por isto?
Eu mordi os lábios, sacudindo a cabeça negativamente.
–Não, eu estou grávida.
–Oh... deveria estar feliz.
–Se fosse outras as circunstâncias... mas agora. – foi a minha vez de respirar fundo e tentar conter a enxurrada de lágrimas de novo. –Isto não deveria acontecer. De maneira alguma.
–Que pena...

Eu peguei mais um papel e acabei de enxugar meu rosto, enquanto a moça loira abria a bolsa e retocava a maquiagem.
–A vida é engraçada. Eu daria tudo para estar no seu lugar. Mas acho que nunca estarei.
–Sinto muito. – murmurei, me sentindo triste por ela. Realmente a vida era muito injusta.Aquela moça queria ter um bebê.E eu jamais poderia ter o meu.
Sim, não havia alternativa para mim, pensei, sentindo uma mistura de alívio e dor. Eu teria que fazer um aborto. E então a vida prosseguiria.
O último resquício daquela noite estaria apagado pra sempre. Peguei minha bolsa e encarei a moça.
–Boa sorte para você.
Ela me encarou e deu um sorriso triste, os dedos passando pelos cabelos loiros. Uma aliança de ouro brilhou. Ela tinha uma beleza deslumbrante. E pelas roupas parecia rica.
E aquela aliança significava que era casada.  provavelmente tinha tudo para ser feliz.Mas parecia infeliz naquele momento.
–Digo o mesmo.
Eu abri a porta e ela me chamou.
–Ei... – eu parei e me voltei. – Pense bem no que vai fazer...para não se arrepender depois.

Eu dei de ombros e me afastei.Como eu poderia me arrepender?Não havia outra saída para mim.Com passos resolutos eu caminhei até a recepção e tratei tudo sobre o aborto.
Ia me custar um bom dinheiro, claro.Teria que raspar a minha poupança.Mas não tinha outro jeito. Não podia contar com meus pais.E nem com o cara que me engravidara. Afinal, eu não fazia ideia de quem ele era.
Pensar nisto me deixou tonta de novo e eu fechei os olhos, lutando contra a náusea ao sair da clínica.Mãos gentis me seguraram e eu abri os olhos, me deparando com a mesma moça loira do banheiro.
–Você está bem?
–Não... mas é apenas uma tontura... acho que é normal, não é?
–Está sozinha? Não pode ir embora assim.
–Eu já vou melhorar.
–Venha comigo. Tem um café aqui do lado. Vamos nos sentar e você terá chance de melhorar e depois vai embora.Eu queria declinar, mas estava mesmo me sentindo muito mal, então a acompanhei.
–Está melhor? – ela perguntou quando nos sentamos e eu pedi uma água. Ela pediu um chá.
–Sim, um pouco.
–Meu nome é Rosalie Cullen, a propósito. – ela se apresentou.
–Isabella Swan, mas me chame de Bella. – murmurei. - Obrigada por ter me ajudado, Rosalie.
–Você parecia que ia desmaiar, fiquei assustada. Ainda acho que deveria comer alguma coisa...
–Não, obrigada. Se comesse agora acho que poderia vomitar.Rosalie sorriu.
–Isto é normal nos primeiro meses, vai passar depois do quarto mês.
–Não chegarei a isto. – cortei.
Ela ficou séria.
–Não vai ter seu bebê?Eu respirei fundo.
–Eu não posso.
–Não deveria fazer isto...
–Você não entende... – o nó se formou na minha garganta de novo. – É tão complicado.
–Já conversou com o pai do bebê? O que ele acha disto?
Meu rosto se tingiu de vermelho.

–Não, não falei.
–Mas deveria falar. A decisão tem que ser de vocês dois.
–Eu... eu não posso falar com ele.
–Por quê? Oh... ele não é seu namorado, suponho. Mesmo assim, ainda é filho dele e...
–Eu não posso falar com ele porque eu não sei onde ele está. – confessei e Rose me fitou confusa.
–Como assim?
Eu podia sentir meu rosto queimando.
–Foi numa festa, eu... foi apenas uma transa impensada... aconteceu... sei que não deveria, mas...
–Ah, agora eu entendo. Você ficou bêbada numa festa e transou com um cara desconhecido e agora está grávida.
–É... isto. – confirmei. Não era toda a verdade, mas era basicamente aquilo.
–Sinto muito... tem certeza que não pode encontrá-lo...?
–Não. Eu... nem me lembro direito.
–Deveria ter pensado antes, Bella. Estas coisas são perigosas... sei que na universidade a gente perde um pouco a cabeça, mas...
–Eu sei de tudo isto e acredite, eu era praticamente virgem antes deste cara. Eu nunca... nunca tinha feito algo assim. Foi realmente um erro terrível e agora eu me arrependo muito.
–Imagino...
–Por isto não posso nem pensar em ter este bebê. Meus pais... seria muita decepção. Nem sei se teria coragem de encarar meu pai se ele soubesse disto.
–Começo a te entender.
–Queria nunca ter feito aquilo, eu tenho tanta vergonha.

Rosalie segurou minha mão por cima da mesa.
–Não se sinta assim, todos nós erramos na vida.
Eu pisquei para afugentar as lágrimas.Me sentia mais leve podendo conversar sobre aquilo com aquela moça.Mesmo não podendo dizer toda a verdade. Mesmo assim, era bom poder falar.
–Eu já marquei o aborto. –disse. – Agora é só... uma questão de tempo e tudo se resolverá.
–É realmente uma pena que tenha que fazer isto.
–Eu não tenho outra saída. Sou apenas uma estudante, não tenho emprego... estou sozinha aqui... e nem posso contar com o cara de quem engravidei, então... é o melhor a fazer.
Rosalie tomou o seu chá, pensativa. Eu olhei a hora.
–Bom, eu preciso ir, já estou melhor. Mais uma vez, obrigada, Rosalie...
–Espere... – ela pediu e segurou minha mão, me impedindo de levantar. – Você não precisa fazer o aborto. Você pode dar seu bebê para mim.
Eu a encarei, achando que não tinha ouvido direito, mas Rosalie sorria agora, como se tivesse tido uma grande ideia.
–Sim, o destino colocou você no meu caminho, é isto! Eu posso ficar com seu bebê.
–Rosalie, está querendo dizer que quer adotar o bebê que estou esperando?
–Sim, não vê? Eu quero um bebê, mas não posso ter. E você não pode criar este que está esperando...

Eu a encarei desorientada.Será que estava falando sério?Sim, fazia sentido. Muita gente tinha bebês e davam para outros casais criarem, mas eu fazer isto?
Era impossível. Como eu ia continuar na faculdade, como ia esconder aquilo dos meus pais?
–Rosalie, entendo sua ideia, mas é impossível. Eu não posso carregar um bebê meses a fio... tenho que estudar e arranjar um estágio...
–Eu ajudo você. Estaríamos juntas nisto! Por favor... eu vou amá-lo muito. Sempre quis ser mãe, Bella..
–Ainda pode ser...
–Não, não posso. Eu estou tentando há anos. Já fiz vários tratamentos. Neste momento estou aqui em Nova York para encontrar um médico que tem um tratamento que podia me ajudar. Mas foi em vão. Ele disse que não posso engravidar. Nunca poderei ter filhos, Bella.
–Você pode adotar... tem muitas crianças...
–Por que não pode ser a sua criança? Seria um arranjo perfeito, Bella. Eu quero um bebê e você não pode cuidar do que espera. Eu estou disposta a cuidar dele. Amá-lo, educá-lo. E ele terá tudo. Não lhe negue isto, Bella. Não pode matar este bebê, Bella!
Matar. A palavra me pegou desprevenida e sua força me atingiu.

Sim, um aborto era isto. Era matar.Mesmo sendo um feto. Eu não daria a chance nem dele nascer.Ah deus...
E se a opção de Rosalie fosse melhor?Dar a este bebê a chance de nascer.De ter pais que o ame.
–Por favor, Bella... Vai ser o melhor para o bebê. Sei que será difícil, terá que abrir mão de algumas coisas por um tempo, mas eu te ajudo. Serão apenas alguns meses. E depois terá sua vida de volta.
–Eu não sei, Rosalie...
–Eu sei que é difícil pensar nisto agora, mas eu a deixarei pensar. – ela abriu a bolsa e tirou um cartão. – Eu ficarei na cidade mais uns dias. Me telefone e diga sua resposta.
Eu peguei o cartão e me levantei, saindo do café, deixando Rosalie e sua proposta para trás.

Nos dias que se seguiram eu não conseguia me concentrar em nada.Apenas tentava saber o que deveria fazer.Aborto ainda era a solução mais simples.
Em poucos dias tudo estaria acabado.Mas eu podia fazer diferente. Poderia ter o bebê.E Rosalie o criaria.Rosalie, que sempre sonhara em ser mãe.
Seria justo eu tirar aquele bebê, quando ele podia ter uma vida feliz? Mas como é que eu conseguiria levá-lo meses dentro de mim, escondendo de todos, parando minha vida por todo aquele tempo?
Eu não sabia o que fazer.

Alguns dias depois a clínica me ligou pedindo a confirmação do meu procedimento que ocorreria na manhã seguinte.E eu pedi para desmarcar.
Quando desliguei o telefone meu coração batia descompassado.Então era isto. Estava decidido. Eu ia ter aquele bebê.E Rosalie também teria o seu bebê sonhado, afinal.
Eu estava cheia de medo quando procurei o cartão e liguei para Rosalie, marcando de encontrá-la no mesmo café.Mas eu sabia bem lá no fundo, que eu estava fazendo a coisa certa.
Rosalie me esperava em frente ao café. Muito elegante e bonita, me encarando com olhos ansiosos.
–E então?
–Eu vou ter o bebê.
Ela sorriu e me abraçou.
Eu a abracei de volta.
Não havia felicidade em mim.
Mas eu podia me sentir bem com a felicidade dela.
E imaginar que o bebê na minha barriga também estaria feliz.

**continua**




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